Página:A escrava Isaura (1875).djvu/186

Wikisource, a biblioteca livre

176

achava, inclusivè musicos, porteiros e famulos, atropellando-se uns aos outros, arrojavão-se afanosos para a sala, onde se dava o singular incidente que estamos relatando. A sala estava litteralmente apinhada de gente, que nem se podia mexer, e que offegante de anciosa curiosidade erguia a cabeça, afiava o ouvido e alongava o pescoço o mais que podia para ver e ouvir o que se passava.

Foi no meio desta multidão silenciosa, immovel, estupefacta e anhelante, que Martinho sacando tranquillamente da algibeira o annuncio, que nós já conhecemos, desdobrou-o ante seos olhos, e em voz bem alta e sonóra o leo de principio a fim.

— Bem se vê, — continuou elle concluida a leitura, — que os signaes combinão perfeitamente, e só um cego não verá naquella senhora a escrava do annuncio. Mas para tirar toda a duvida, só resta examinar, se ella tem o tal signal de queimadura acima do seio, e é cousa que desde já se póde averiguar com licença da senhora.

Dizendo isto, Martinho com impudente desembaraço se encaminhava para Isaura.

— Alto lá, vil esbirro!... bradou Alvaro com força, e agarrando o Martinho pelo braço, o arrojou para longe de Isaura, e o teria lançado em terra, se elle não fosse esbarrar de encontro ao grupo, que cada vez mais se apertava em torno