Página:A escrava Isaura (1875).djvu/187

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delles. — Alto lá! nem tanto desembaraço! escrava, ou não, tu não lhe deitarás as mãos immundas.

Aniquilada de dôr e de vergonha, Isaura erguendo emfim o rosto, que até ali tivéra sempre debruçado e escondido sobre o seio de seo pae, voltou-se para os circumstantes, e ajuntando as mãos convulsas no gesto da mais violenta agitação:

— Não é preciso que me toquem, — exclamou com voz angustiada. — Meos senhores, e senhoras, perdão! commetti uma infamia, uma indignidade imperdoavel!... mas Deos me é testemunha, que uma cruel fatalidade a isso me levou. Senhores, o que esse homem diz, é verdade. Eu sou... uma escrava!...

O rosto da captiva cobrio-se de lividêz cadaverica, como lyrio ceifado pendeo-lhe a fronte sobre o seio, e o donoso corpo desabou como bella estatua de marmore, que o furacão arranca do pedestal, e teria rojado pela terra, se os braços de Alvaro e de Miguel não tivessem promptamente acudido para amparar-lhe a queda.

Uma escrava!... estas palavras, soluçadas no peito de Isaura como o estertor do arranco extremo, murmuradas de boca em boca pela multidão estupefacta, echoárão largo tempo pelos vastos salões, como o rugir sinistro das lufadas da noite pela grenha de funebre arvoredo.