Página:A escrava Isaura (1875).djvu/194

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de flores, que mais parecia um caramanchão ou gruta de verdura, do que mesmo uma sala. Quasi toda a luz lhe vinha pelos fundos atravez de uma larga porta dando para uma varanda aberta, que olhava para o mar. Dali a vista enfiando-se por entre troncos de coqueiros, que derramavão sombra e fresquidão em torno da casa, deslizava pela superficie do oceano, e ia embeber-se na profundidade de um céo limpido e cheio de fulgores.

Miguel e Isaura depois de terem cumprimentado o visitante e trocado com elle algumas palavras de mera civilidade, presumindo que quererião estar sós, retirárão-se discretamente para o interior da casa.

— Na verdade, Alvaro, — disse o doutor sorrindo-se, — é uma deliciosa morada esta, e não admira que gostes de passar aqui grande parte do teo tempo. Parece mesmo a gruta mysteriosa de uma fada. E’ pena, que um maldito nigromante quebrasse de repente o encanto de tua fada, transformando-a em uma simples escrava!

— Ah! não gracejes, meo doutor; aquella scena extraordinaria produzio em meo espirito a mais estranha e dolorosa impressão; porém, francamente te confesso, não mudou senão por instantes a natureza de meos sentimentos para com essa mulher.

— Que me dizes?... a tal ponto chegará a tua excentricidade?!...