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Página:A escrava Isaura (1875).djvu/195

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— Que queres? a natureza assim me fez. Nos primeiros momentos a vergonha e mesmo uma especie de raiva me cegárão; vi quasi com prazer o transe cruel, porque ella passou. Que triste e pungente decepção! Vi em um momento desmoronar-se e desfazer-se em lama o brilhante castello, que minha imaginação com tanto amor tinha erigido!... uma escrava illudir-me por tanto tempo, e por fim ludibriar-me, expondo-me em face da sociedade á mais humilhante irrisão! faze idéa de quanto eu ficaria confuso e corrido diante daquellas illustres damas, com as quaes tinha feito ombrear uma escrava em pleno baile, perante a mais distincta e brilhante sociedade!...

— E o que mais é, — accrescentou Geraldo, — uma escrava, que as offuscava a todas por sua rara formosura e brilhantes talentos. Nem de proposito poderias preparar-lhes mais tremenda humilhação. E’ um crime, que nunca te perdoarão, posto que saibão que tambem andavas illudido.

— Pois bem, Geraldo; eu, que naquella occasião, desairado e confuso, não sabia onde esconder a cara, hoje rio e me applaudo por ter dado occasião a semelhante aventura. Parece que Deos de proposito tinha preparado aquella interessante scena, para mostrar de um modo palpitante quanto é van e ridicula toda a distincção, que