Página:A escrava Isaura (1875).djvu/209

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— Vª. Sª., que bem me conhece, — respondeo Martinho, — já pode presumir pouco mais ou menos o motivo, que aqui me traz.

— Nem por sombras posso adivinhal-o, antes me causa estranheza esse apparato policial, de que vem acompanhado.

— Sua estranheza cessará, sabendo que venho reclamar uma escrava fugida, por nome Isaura, que não ha muito tempo foi por mim apprehendida no meio de um baile, no qual se achava Vª. Sª., e devendo eu envial-a a seo senhor no Rio de Janeiro, Vª. Sª. a isso se oppôz sem motivo algum justificavel, conservando-a até hoje em seo poder contra todo o direito.

— Alto lá, senhor Martinho! penso que não é pessoa competente para dar ou tirar direito a quem lhe parecer. O senhor bem sabe, que eu sou depositario dessa escrava, e que com todo o direito e consentimento da autoridade a tenho debaixo de minha protecção.

— Esse direito, se é que se pode chamar direito a uma arbitrariedade, cessou, desde que Vª. Sª. nada tem allegado em favor da mesma escrava. E demais, — continuou apresentando um papel, — aqui está ordem expressa e terminante do chefe de policia, mandando que me seja entregue a dita escrava. A isto nada se póde oppôr legalmente.

— Pelo que vejo, senhor Martinho, — disse