Página:A escrava Isaura (1875).djvu/217

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não é digno de ti?... que assim incorres realmente nos epithetos affrontosos, com que obsequiou-te o tal Leoncio, e que te tornas verdadeiramente um seductor e acoutador de escravos alheios.?...

— Desculpa-me, meo caro Geraldo; não posso acceitar a tua reprimanda. Ella só pode ter applicação aos casos vulgares, e não ás circumstancias especialissimas em que eu e Isaura nos achamos collocados. Eu não dou couto, nem capeio a uma escrava; protejo um anjo, e amparo uma victima innocente contra a sanha de um algôz. Os motivos que me impellem, e as qualidades da pessoa por quem dou estes passos, nobilitão o meo procedimento, e são bastantes para justificar-me aos olhos de minha consciencia.

— Pois bem, Alvaro; faze o que quizeres; não sei que mais possa dizer-te para demover-te de um procedimento, que julgo não só imprudente, como, a fallar-te com sinceridade, ridiculo, e indigno da tua pessoa.

Geraldo não podia dissimular o descontentamento que lhe causava aquella cega paixão, que levava o seo amigo a actos que qualificava de burlesco desatino, e loucura inqualificavel. Por isso longe de auxilial-o com seos conselhos, e indicar-lhe os meios de promover a libertação de Isaura, procurava com todo o empenho demovel-o daquelle proposito, pintando o negocio ainda mais difficil do que realmente o era. De bom grado,