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Página:A escrava Isaura (1875).djvu/221

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esta declaração, que é sem duvida uma ousadia na boca de uma escrava.

— Falla, Isaura, falla sempre, que me amas. Pudesse eu ouvir de teos labios essa palavra por toda a eternidade.

— Era um triste amor na verdade, um amor de escrava, um amor sem sorriso nem esperanças. Mas a ventura de ser amada pelo senhor era uma idéa tão consoladora para mim! amando-me o senhor me nobilitava a meos proprios olhos, e quasi me fazia esquecer a realidade de minha humilde condição. Eu tremia ao pensar que descobrindo-lhe a verdade, ia perder para sempre essa doce e unica consolação que me restava na vida. Perdoe, meo senhor, perdoe á escrava infeliz, que teve a louca ousadia de amal-o.

— Isaura, deixa-te de vãos escrupulos, e dessas phrases humildes, que de modo nenhum podem caber em teos labios angelicos. Se me amas, eu tambem te amo, por que em tudo te julgo digna do meo amor; que mais queres tu?.. Se antes de conhecer a condição em que nasceste, eu te amei subjugado por teos raros encantos, hoje que sei que a tantos attractivos reunes o prestigio do infortunio e do martyrio, eu te adoro, eu te idolatro mais que nunca.

— Ama-me, e é essa idéa, que ainda mais me mortifica!... de que nos serve esse amor, se nem ao menos posso ter a fortuna de ser sua escrava,