Página:A escrava Isaura (1875).djvu/223

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protecção de um Deos justo, por que protejo um dos seos anjos.

Alvaro não obstante ficar sabendo depois da noite do baile, que Isaura era uma simples escrava, nem por isso deixou de tratal-a dahi em diante com o mesmo respeito, defferencia e delicadeza, como a uma donzella da mais distincta jerarquia social. Procedia assim de accordo com os elevados principios que professava, e com os nobres e delicados sentimentos do seo coração. O pudor, a innocencia, o talento, a virtude e o infortunio, erão sempre para elle cousas respeitaveis e sagradas, quer se achassem na pessoa de uma princeza, quer na de uma escrava. Sua affeição era tão casta e pura como a pessoa que della era objecto, e nunca nem de leve lhe passára pelo pensamento abusar da precaria e humilde posição de sua amante, para profanar-lhe a candura immaculada. Nunca de sua parte um gesto mais ousado, ou uma palavra menos casta havião feito assomar ao rosto da captiva o rubor do pejo, e nem tão pouco os labios de Alvaro lhe havião roçado o mais leve beijo pelas virginaes e pudicas faces. Apenas depois de instantes e repetidas supplicas de Isaura, havia tomado a liberdade de tratal-a por tu, e isso mesmo quando se achavão a sós.

Sómente agora pela primeira vez, Alvaro, dominado pela mais suave e vehemente emoção, ao