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Página:A escrava Isaura (1875).djvu/233

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declaro-lhe que nenhuma vontade tenho de escarnecer, nem de ser escarnecido. Confesso-lhe que desejo muito a liberdade dessa escrava, tanto quanto desejo a minha felicidade, e estou disposto a fazer todos os sacrificios possiveis para conseguil-a. Já lhe offereci dinheiro, e ainda offereço. Dou-lhe o que pedir... dou-lhe uma fortuna por essa escrava. Abra preço...

— Não ha dinheiro que a pague; nem todo o ouro do mundo, porque não quero vendel-a.

— Mas isso é um capricho barbaro, uma perversidade...

— Seja capricho da qualidade que Vª. Sª. quizer; por ventura não posso ter eu os meos caprichos, comtanto que não offenda direitos de ninguem?.. por ventura Vª. Sª. não tem tambem o seo capricho de querel-a para si?... mas o seo capricho offende os meos direitos, e eis ahi o que não posso tolerar.

— Mas o meo capricho é nobre e bemfazejo, e o seo é uma tyrannia, para não dizer uma vilania. Vª. Sª. mancha a sua vida com uma nodoa indelevel conservando na escravidão essa mulher; cospe o desrespeito e a injuria sobre o tumulo de sua santa mãe, que creou com tanta delicadeza, educou com tanto esmero essa escrava, para tornal-a digna da liberdade que pretendia dar-lhe, e não para satisfazer aos caprichos de Vª. Sª. Ella por certo lá do céo, onde está, o amaldiçoará,