Página:A escrava Isaura (1875).djvu/260

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linho, e com passos mal seguros penetrar, como um duende evocado do sepulchro, naquelle salão, onde não ha muito tempo a vira tão radiante de belleza e mocidade; naquelle salão, que parecia ainda repetir os ultimos accentos de sua voz suave e melodiosa.

Mesmo assim ainda era bella a misera captiva. A magreza fazendo sobresahirem os contornos e angulos faciaes, realçava a pureza ideal e a severa energia daquelle typo antigo.

Os grandes olhos pretos cobertos de luz baça e melancolica, erão como cirios funereos sob a arcada sombria de uma capella tumular. Os cabellos entornados em desordem em volta do collo, fazião ondular por elle leves sombras de maravilhoso effeito, como festões de hera a se debruçarem pelo marmore vetusto de estatua empallidecida pelo tempo. Naquella miseranda situação, Isaura offerecia ao esculptor um formoso modelo da Niobe antiga.

— Aquella é Isaura!.. oh! meo Deos! coitada! — murmurou Malvina ao vel-a, e foi-lhe mister enxugar duas lagrimas, que a seo pezar humedecerão-lhe as palpebras. Esteve a ponto de ir implorar clemencia a seo esposo em favor da pobresinha, mas lembrou-se das perversas inclinações e máo comportamento, que Leoncio aleivosamente attribuira a Isaura, e assentou de re-