Página:A escrava Isaura (1875).djvu/259

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— Vamos, minha filha, disse Miguel beijando-a na fronte. Não te entregues assim ao desalento; tenho esperança de que hás de viver e ser feliz.

Miguel, espírito acanhado e rasteiro, coração bom e sensível, mas inteiramente estranho às grandes paixões, não podia compreender todo o alcance do sacrifício que impunha à sua filha. Encarando a felicidade mais pelo lado dos interesses da vida positiva e material, não pelos gozos e exigências do coração, ousava conceber sinceras esperanças de mais felizes e tranqüilos dias para sua filha, e não via que, sujeitando-a a semelhante opróbrio, aviltando-lhe a alma, ia esmagar-lhe o coração. Queria que ela vivesse, e não via que aquele ignominioso consórcio, depois de tantas e tão acerbas torturas por que passara, era o golpe de compaixão, que, terminando-lhe a existência, vinha abreviar-lhe os sofrimentos.

Malvina achava-se no salão, e ali esperava o resultado da conferência que Miguel fora ter com sua filha. Rosa e André, de braços cruzados junto à porta da entrada, também ali se achavam às suas ordens.

Malvina sentiu um doloroso aperto de coração ao ver assomar na porta o vulto de Isaura, arrimada ao braço de Miguel, lívida e desfigurada como enferma em agonia, os cabelos em desalinho,