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Página:A escrava Isaura (1875).djvu/258

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trémula e agitada. Falle, meo pae; acaso morreo?....

— Não, minha filha, mas... está casado.

— Casado!... Alvaro casado!... oh! não; não é possível!.. quem lhe disse, meo pae?...

— Elle mesmo, Isaura; lê esta carta.

Isaura tomou a carta com mão trémula e convulsa, e a percorreo com olhos desvairados. Lida a carta não articulou uma queixa, não soltou um soluço, não derramou uma lagrima, e ella palida como um cadaver, os olhos estatelados, a boca entre-aberta, muda, immovel, hirta, ali ficou por largo tempo na mesma posição; dir-se-hia que fôra petrificada como a mulher de Loth, ao encarar as chammas em que ardia a cidade maldita. Emfim por um movimento rapido e convulso atirou-se ao seio de seo pae, e inundou-o de uma torrente de lagrimas.

Este pranto copioso alliviou-a; ergueo a cabeça, enxugou as lagrimas, e pareceo ter recobrado a tranquillidade, mas uma tranquillidade gelida, sinistra, sepulchral. Parecia que sua alma se tinha anniquilado sob a violencia daquelle golpe esmagador, e que de Isaura só restava o phantasma.

— Estou morta, meo pae!... não sou mais que um cadaver;... fação de mim o que quiserem....

Forão estas as ultimas palavras, que com voz funebre e sumida proferio naquelle lobrego recinto.