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A ESCRAVA ISAURA
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a perola entrançada em seos cabellos brancos. — O céo não quiz dar-me uma filha de minhas entranhas, — costumava ella dizer, — mas em compensação deo-me uma filha de minha alma.

O que porém mais era de admirar na interessante menina, é que aquella predilecção e extremosa sollicitude de que era objecto, não a tornava impertinente, vaidosa ou arrogante nem mesmo para com seos parceiros de captiveiro. O mimo, com que era tratada, em nada lhe alterava a natural bondade e candura do coração. Era sempre alegre e boa com os escravos, docil e submissa com os senhores.

O commendador não gostava nada do singular capricho de sua esposa para com a mulatinha, capricho, que qualificava de caduquice.

— Forte loucura! — costumava exclamar com accento de commiseração. — Está ahi se esmerando em crear uma formidavel tafulona, que lá pelo tempo adiante ha-de-lhe dar agoa pela barba. As velhas umas dão para rezar, outras para ralhar desde a manhã até á noute, outras para lavar cachorrinhos ou para crear pintos; esta deo para criar mulatinhas princezas. É um divertimento um pouco mais dispendioso na verdade; mas... que lhe faça bom proveito; ao menos emquanto se entretêm por lá com o seo embelego, poupa-me uma boa duzia de impertinentes e rabugentos sermões... Lá se avenha!...