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Página:A escrava Isaura (1875).djvu/75

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Leoncio, subjugado pelo olhar imperioso da mulher, e pela força das circumstancias, que contra elle conspiravão, não poude mais escusar-se. Pálido, sombrio e pensativo, foi sentar-se junto a uma mesa, onde havia papel e tinta, e de penna em punho pôz-se a meditar em attitude, de quem ia escrever. Malvina e Henrique, debruçados a uma janella, conversavão entre si em voz baixa. Miguel, sentado a um canto na outra extremidade da sala, esperava pacientemente, quando Isaura, que do quintal, onde se achava escondida, o tinha visto chegar, entrando no salão sem ser sentida, se lhe apresentou diante dos olhos. Entre pai e filha travou-se a meia voz o seguinte diálogo:

— Meo pae!... que novidade o traz por aqui?... a modo que lhe estou vendo um ar mais alegre que de costume.

— Caludo! — murmurou Miguel, levando o dedo á boca e apontando para Leoncio. — Trata-se da tua liberdade.

— Devéras meo pae!... mas como poude arranjar isso?

— Ora como?!... a peso de ouro. Comprei-te, minha filha, e em breve vás ser minha.

— Ah! meo querido pae!... como vmce. é bom para sua filha!... se soubesse, quantos hoje já me vieram offerecer a liberdade!... mas por que preço! meo Deos!... nem me atrevo a lhe