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CONDORCET
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de um seculo, de um unico supplicio inflingido a um colono por ter assassinado seu escravo. Nem se diga que taes crimes, occultos no interior das fazendas, não pódem ser provados, pois os brancos matam os negros calhambolas como si fôra caça braba; e este crimre é commettido fóra das fazendas, é publico, e fica impune. E, ainda mais, não só nem uma unica vez a cabeça de um d'esses monstros tombou sob o cutello da lei, como tão infames acções não os deshonram uns perante os outros; ousam, ao contrario, confessal-as, d'ellas se vangloriam, e regressam tranquillamenle para a Europa onde veem fallar ainda de humanidade, de honra e de virtude!... E' possivel que tenha havido senhores humanos na America; porém, ¿por ter Cicero na antiga Roma tratado seus escravos com humanidade, devemos por venlura deixar de detestar a barbaridade dos romanos para com seus escravos? E, quando sabemos que ha milhares de infelizes entregues á homens vis e mãos que pódem impunemente fazel-os soffrer até a tortura ou a morte, — ¿temos por ventura necessidade de conhecer as minucias das fazendas para calcular tudo qnanto soffrem d'ultrages esses desgraçados para termos o direito de erguer a voz contra seus tyrannos, e para dispensarmo-nos de lamentar os senhores d'escravos, ainda quando a emancipação lhes accarrete a ruina? Trata-se, para o escravo, da liberdade — que é a vida, — e para o colonno, de algumas tonnelladas de ouro; e... é o sangue do innocente que ousam pôr na balança com a cobiça do culpado!...