Página:A fallencia.djvu/100

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"O rapaz quer cerveja, pensou consigo o médico;. pois façamos a vontade ao rapaz".

Entraram no botequim. Em uma salinha estreita, com cromos nas paredes e papéis de cor no lampião de gás, havia três mesinhas vazias e uma ocupada por dois ciganos angulosos, que gesticulavam largamente, sacudindo-se nas suas longas sobre-casacas ensebadas. Tudo às moscas. O dono da casa veio, com ar sonolento, pedir as ordens; o dr. Gervásio deu-lhas, olhando para um violão pousado no balcão, e de que se dependurava uma larga alça de cadarço vermelho.

Aquele instrumento abandonado sugeriu-lhe a idéia das noitadas de modinhas amorosas pelas estreitas ruas do bairro. Ou na treva, ou à claridade baça do luar, aqueles prédios teriam ouvidos com que escutassem músicas vagabundas? Afigurava-se-lhe que não. A fadiga dos seus dias rudes tornaria de chumbo o seu sono, impassível a sua alma cansada. Por mais que o trovador berrasse, a sua voz chegaria lá dentro como um leve zumbir de abelhas...

O dono do botequim julgou ver no olhar do médico um reparo ao desleixo da sala e arrebatou a viola para dentro.

"Foi-se a única nota pitoresca", pensou Gervásio, atirando os níqueis para a mesa.