Saltar para o conteúdo

Página:A fallencia.djvu/101

Wikisource, a biblioteca livre

Continuaram calados o seu caminho. E era um caminho todo novo para o médico, que o achava interessante na sua fealdade, extravagante no seu conjunto de velharias e sobejidões.

A novidade do meio dava-lhe um prazer de viagem: becos sórdidos, marinhando pelo morro; casas acavaladas, de paredes sujas; janelas onde não acenava a graça de uma cortina nem aparecia um busto de mulher; caras preocupadas, grossos troncos arfantes de homens de grande musculatura, e ruído brutal de veículos pesadões. faziam daquele canto da sua cidade, uma cidade alheia, infernal, preocupada bestialmente pelo pão.

Subiam a rua da Saúde. Chegando à esquina do beco do Cleto, dr. Gervásio olhou: ao fundo, no mar muito azul, barrava o horizonte um vapor do Lloyd.

Pontas finas de mastros riscavam de escuro o espaço límpido. Em terra vinham marinheiros aos grupos, baloiçando-se nos rins. Portugueses levavam cargas, em carrinhos de mão, para um trapiche.

Foi logo adiante que um grupo de moleques irrompeu furioso, cercando o Ribas, exigindo-lhe os dez tostões do jogo da véspera. Eram quatro: um caboclinho de olhos negros e vivos, um negrinho retinto, um menino loiro,