lá dentro e veio pelo corredor. Sentindo-a, D. Itelvina correu para a alcova próxima e acendeu a lamparina do Senhor Santo Cristo, que assoprava sempre que a irmã voltava costas. Ruth seguia-lhe os movimentos e foi com espanto que a viu mergulhar os dedos magros no prato das esmolas e sumir, quase que por encanto, uma meia dúzia de moedas no bolso do avental. A velha julgou que a sobrinha nada tivesse percebido, tão rápido e adunco fora o seu gesto, e voltou dizendo que o vento apagara a lamparina, e que embebida na prosa ela se esquecera de a reacender...
Ruth baixou o rosto, muito corada, arrependida de ter ficado. Noca rodara sobre os calcanhares; se bem andara, onde estaria ela!
D. Joana entrou, gemendo de cansaço.
— Olha, maninha, quem está aqui! disse-lhe a irmã.
— Que milagre! exclamou D. Joana, abrindo os braços para Ruth, que se precipitou neles, morta por se ver livre da secura áspera da outra tia.
— Quem foi que trouxe você?
— Noca... ela vem-me buscar depois de amanhã bem cedo... mamãe não queria dar licença, tinha medo que eu incomodasse, mas tanto pedi, tanto pedi...