Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/103

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esse de vir surpreender a gente, quando se está só.

Dizendo isso, Regina ergueu-se altiva e desdenhosa e, sem ao menos olhar para o mancebo, dirigiu-se para o seu barco, saltou dentro e fez-se ao largo.

Roberto ali conservou-se por largo tempo na mesma posição, mudo, imóvel, aniquilado, com os olhos fitos na barquinha que, lesta e veloz, lá ia conduzindo a inflexível beldade através das ondas ligeiramente encrespadas pelas auras matinais. Assim, pois, desde o primeiro encontro com a inimiga, que em seu louco orgulho esperava ver abatida a seus pés, viu-se vencido sem combate, humilhado e perdido para sempre. Não levou muito tempo a chegar-lhe aos ouvidos o formidável estribilho da canção de Regina:

Eu sou pérola das vagas,
Que não sei, nem quero amar
O meu peito é como a rocha,
Onde em vão esbarra o mar.
   Mancebo, vai noutra parte
   Teus amores suspirar.

Esse pungente sarcasmo, envolto em ondas da mais suave e angélica melodia, vibrado por uma voz do mais argentino e delicioso timbre, ecoou no coração de Roberto como lúgubre sentença do mais acerbo desengano.