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Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/113

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extraordinária devia ser a beleza dessa mulher, que tinha o funesto condão de alucinar quantos mancebos tinham a desgraça de enxergá-la. Todavia, como nunca a tinha visto, não podia conceber como uma mulher, por formosa e sedutora que fosse, tivesse o poder de cativar a tal ponto a vontade, e subverter as ideias de um homem. Não desejando encontrar-se com ela, não a evitava, e sentia mesmo pungir-lhe interiormente uma secreta curiosidade de ver de perto tão extraordinária mulher que devia ser um assombro de formosura. Em sua alma ingênua e virgem, o adolescente julgava-se ao abrigo de qualquer emoção amorosa, e pensava que afrontaria com toda a calma e seguridade os perigos de um encontro com a sedutora fada.

Um dia, com a alma acabrunhada de tédio e melancolia — coisa tão imprópria de seus verdes anos —, Ricardo, depois de ter discorrido longas horas pelas praias ermas, ora lembrando-se com viva saudade de seus infortunados irmãos, ora concentrando toda a força do pensamento nessa mulher singular, que evocava no espírito revestida de todos os seus terríveis encantos, reclinou-se junto a um rochedo, que se debruçava sobre a praia formando como um toldo de granito e derramando sobre a fina areia fresca e deliciosa sombra.