Os cabelos castanhos, compridos e anelados lhe contorneavam o rosto e o torso soberbo e perfeitamente modelado. A cabeça repousava sobre o braço recurvado, enquanto o corpo esbelto e admiravelmente talhado se estendia pela areia que lhe servia de leito. Os lábios rubros, que fariam inveja à mais mimosa donzela, lhe tremiam agitados no ofego do sonho penível. Na Grécia antiga o teriam tomado por Endimião, ou Adônis, Hypólito ou Antínoo.
Regina contemplou por um momento o donoso semblante e as formas esbeltas mas vigorosas do mancebo, e um vago sentimento de interesse e ternura, assomando-lhe do coração, banhou-lhe os lábios em um meigo sorriso. Percebendo que o moço se debatia nas ânsias de um sonho opressivo, ia despertá-lo, mas antes que o pudesse fazer, Ricardo havia aberto os olhos a tempo de ainda surpreender nos lábios da moça aquele meigo sorriso de ternura, que para logo se esvaeceu. Foi Regina quem primeiro quebrou o silêncio.
— Que tendes, moço? — perguntou friamente. — Parece-me que tínheis um mau sonho.
— Oh…! Sim…! — respondeu Ricardo atônito e perturbado. — Um lindo sonho… um sonho horrível… mas agora… será ainda um sonho?