Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/13

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estendendo-lhe uma rede de ouro sobre o dorso enrugado.

A pouca distância da praia entre os mangues e matagais do litoral erguia-se vicejante colina, que se boleava graciosamente à maneira de uma cúpula.

No cimo dessa colina alçava-se singela e alva capelinha, semelhando à pomba da arca da aliança, que, depois de ter pairado longo tempo sobre as águas, veio pousar sobre os montes.

Em torno da capela algumas toscas e modestas vivendas formavam uma pequena aldeia habitada por pescadores.

A tarde corria tépida e tranquila; o mar balançava-se frouxamente pelas longas praias, e os pescadores, que voltavam da faina diurna, amarravam seus batéis mesclando coplas de amor e de saudade aos monótonos e compassados bramidos do oceano.

Em tais lugares e a tais horas quem, estando sozinho, não ficaria a cismar engolfando o pensamento nas profundezas do infinito?

E quem não quisesse cismar, se poria a cantarolar alguma xácara melancólica, como faziam alguns pescadores.

E quem não quisesse cismar, ou não soubesse cantar, folgaria de ouvir algum desses contos fantásticos, com que os velhos, às vezes tão