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Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/183

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os ânimos. Em vão a poder de conselhos, súplicas e mesmo lágrimas porfiavam por dissuadir o mancebo de sua tresloucada empresa.

— Que poderás fazer mais que teus irmãos? — diziam-lhe. — És mais valente ou mais robusto que eles? Ou terás algum amuleto, algum talismã que te livre dos encantos da maldita sereia…? Deixa-te disso, moço; procurar assim uma morte certa é tentar a Deus.

A todos esses rogos e admoestações Ricardo respondia inabalável em sua resolução:

— Devo salvar meus irmãos ou morrer como eles morreram.

O sol começava a declinar do meio-dia. Ricardo não quis mais ouvir nem pronunciar uma só palavra; encaminhou-se silenciosamente ao seu batel, desatou a amarra, empunhou o remo e o impeliu para o largo. O vento e a maré o favoreciam como a seus irmãos, e o levavam direito ao malsinado escolho, ao vórtice tremendo a que uma fatal e irresistível força os atraía. A brisa fresca enfunava-lhe rijamente a vela e arrastava-lhe o batel por sobre as vagas encrespadas como a folha seca arrebatada pelo tufão através dos areais do deserto. Em breve já não podia mais ouvir as vozes teimosas dos pescadores, que não cessavam