Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/182

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indefiníveis, vagas e deliciosas emoções. Esse primeiro afeto, porém, de uma alma inexperiente e cândida só esperava um segundo encontro para irromper nessa paixão infrene e cega que se apoderava tiranicamente do coração de todos os amantes de Regina. A imagem dessa mulher, que primeiramente lhe aparecera em sonho para logo se encarnar na mais esplêndida e maravilhosa realidade, lhe havia ficado gravada na mente em vivos e indeléveis traços. Essa recordação, porém, que de contínuo lhe pairava no espírito, não fazia mais que aquecer-lhe suavemente o coração sem inflamar-lhe o sangue na febre do sensualismo, e derramava em toda a sua fisionomia leve sombra de melancolia que lhe tornava ainda mais simpático o encantador aspecto.

Bem se pôde, portanto, avaliar quanto Ricardo devia ser benquisto de toda aquela boa gente, não faltando mesmo corações de formosas meninas, que por ele em segredo suspirassem, e que se julgariam as mais venturosas mulheres do mundo, se conseguissem atear-lhe na alma uma centelha de amor. Mas a mística adoração que consagrava à virgem do mar fechava sua alma a todo e qualquer outro afeto, e as jovens pescadoras baldavam suspiros e olhares enternecidos que Ricardo nem compreendia.

E pois naquele dia fatal grande era a consternação, imensa a ansiedade e aflição, que preocupava