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Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/190

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um objeto de ódio e culto, de pavor e de atração.

Não durou muito tempo esse estado de ansiosa inquietação. Uma voz angélica e suavíssima chegou-lhe aos ouvidos e absorvendo-lhe toda a atenção veio arrebatar-lhe a alma às regiões dos sonhos encantados retraçando-lhe vivamente na fantasia a formosa visão que nunca se lhe apagara da lembrança. Era uma voz de mulher, voz fresca, argentina, arrebatadora, que ondulava pelo espaço em maviosos e apaixonados acentos, como ouvidos humanos jamais haviam escutado.

Olhando para o lado, donde parecia partir a canção, Ricardo avistou em pé na praia a mesma formosa donzela vestida de branco, que divisara há pouco sobre o tope dos rochedos. Como naquele tranquilo e recatado recinto mal bafejava frouxa viração, Ricardo, lançando mão do remo, dirigiu-se para a praia, para onde a formosa fada com expressivos gestos o chamava. Em caminho, afagava-lhe os ouvidos a maviosa canção, que dizia assim:

Nestas praias solitárias
Que procuras, pescador…?
Vens buscar pérolas finas,
E corais de alto valor…?