Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/202

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“‘Pois bem, fica sabendo que é lá que acaba o mar e principia a terra. Ouve bem o que agora te digo e sempre hei de repetir-te: maldita sejas tu se algum dia quiseres ver a terra, e mais maldita ainda se…’

“Aqui murmurou ela mais algumas palavras que eu ou não compreendi, ou de todo me esqueceram.

“Eis o de que confusamente me recordo dessa breve e obscura quadra de minha vida. No mesmo dia em que minha mãe me disse aquelas palavras, se bem me recordo, anoiteceu-me nos palácios encantados de minha mãe, e acordei ou antes nasci de novo na tosca e humilde cabana de Felisbina. Pode ser que estas coisas que eu tenho como reminiscências do passado não sejam mais que puras ilusões de minha fantasia, mas fantásticas ou reais, o certo é que elas têm influído extraordinariamente sobre minha vida, e deram ao meu destino uma fatal e deplorável direção.

“Posto que estranhasse sumamente o novo mundo a que me via transplantada, criança como eu era, não me devia ser difícil conformar-me com o novo gênero de vida a que me via sujeita. Todavia, as minhas recordações nunca me abandonaram e tomaram talvez ainda maior vulto, vistas pelo prisma da imaginação na penumbra do passado, e atormentavam-me as saudades desse