mundo em que me despontara a vida, tão cheia de delícias, esplendores e harmonias, tão superior a essa terra ingrata e bronca que nenhum encanto podia oferecer a meus olhos.
“Fui crescendo em idade, vigor e formosura, e as minhas ilusões longe de se esvaecerem com o andar de tempo e desenvolvimento da razão, se me arraigavam cada vez mais vivas e tenazes na imaginação. Eu me julgava de uma espécie superior às demais criaturas que me rodeavam e, ouvindo falar dos anjos do céu, eu me acreditava um deles, que por qualquer acidente tinha caído sobre a terra, e o dizia com toda a franqueza infantil à velha Felisbina, que se sorria de minha ingenuidade. Contemplava-me ao espelho e no cristal das fontes e, comparando a formosura de meu rosto, a alvura e delicadeza de minha tez, o garbo de meu corpo esbelto com as feições tisnadas e grosseiras e ademanes pouco airosos das filhas dos pescadores, confirmava-me cada vez mais na persuasão de que eu era uma criatura acima do comum. A terra me desprazia soberanamente, e eu olhava para o mar com olhos complacentes, cheios de amor e de saudade, como se fosse a minha pátria e nele tivesse o meu berço. Por isso me viam passar essa vida singular, solitária e misteriosa que tanto dava que cismar ao povo. As maravilhosas histórias que se contavam