Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/220

Wikisource, a biblioteca livre

mares a conversar com as ondas do oceano, e a contar às brisas do mar e às estrelas do céu minhas acerbas desventuras.

“Um dia um grande navio, talvez acossado da tempestade, lançou ferro a algumas amarras de nossas praias; parece que vinha consertar algumas avarias, e fazer aguada.

“‘Oh!’, pensei eu, ‘se aquela gente me quisesse tomar a seu bordo e levar-me para bem longe destas plagas, onde por toda parte vejo as sinistras e fúnebres pegadas de minha fatal existência…! Se eu pudesse percorrer o mundo inteiro sem parar em parte alguma, até que coberta de cãs pudesse enfim restituir-me à sociedade…!’

“Assim pensando, dirigi para a costa o meu barco, e saltei em terra. Os marinheiros e passageiros do navio, que tinham desembarcado em um escaler, me rodearam imediatamente. Minha formosura atraía-lhes a atenção. Como não era gente do lugar, da qual eu tinha certo medo e vergonha, não os evitei. Trataram-me com afabilidade, fizeram-me mil perguntas, e dirigiram-me algumas finezas e galanteios sobre minha formosura.

“Havia entre eles um jovem quase tão belo como tu, Ricardo; perdoa-me esta franqueza; já te patenteei a parte mais íntima e delicada de meu coração revelando-te o amor inextinguível que nele