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Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/230

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recife, vacila, range e recua estremecendo.

A imaginação da fada, levada até ali por sentimentos ternos, se bem que quase sempre dolorosos, esbarrou de chofre no sepulcro ensanguentado, onde jazia seu marido, e sobre o qual no decurso dos dois últimos dias havia derramado o sangue dos dois irmãos de Ricardo.

Olvidara-se por momentos de que ela ali estava como a sacerdotisa da vingança e que esse mancebo que a escutava, embalado entre as mais fagueiras esperanças de amor e ventura, era o cordeiro do sacrifício que ali estava beijando a mão, que em breve tinha de derramar-lhe o sangue.

Eis a horrível extremidade a que o mais singular dos destinos tinha levado a desditosa filha das ondas. Por natural repugnância ou pela reminiscência confusa desses sonhos da primeira infância e das maldições com que a ameaçava sua mãe, vivia na terra como exilada, estranha ao resto da humanidade, esquivando-se ao amor de todos, e a todos inspiram da ardente e inextinguível paixão. Mas essa inexorável isenção teve de sucumbir um dia, e a intratável fada sentiu-se subjugada por um amor tão violento e profundo como o que costumava atear no peito de seus adoradores. Toda a seiva de seu coração, todas as forças de sua alma, longo tempo repousadas no