Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/231

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seio da indiferença, despertaram-se com incrível energia para alimentar e fortalecer esse primeiro afeto, que devia ser o único e derradeiro de sua vida. Essas almas, que do alto de sua impassibilidade parecem zombar do poder do amor, quando chegam a amar, amam uma só vez e com todas as forças, e nelas o gelo da indiferença é substituído por um fogo devorador. As tempestades açoitam com mais violência os cabeços altaneiros e inacessíveis. Também as neves perenes dos píncaros vulcânicos desaparecem submergidas debaixo de torrentes de lavas inflamadas.

Ricardo fora o primeiro amor de Regina, e devia ser o único. O amor, ou antes a estima que consagrara a seu esposo de um dia, fora como uma diversão que o destino concedia a seus infortúnios, um refúgio contra a mágoa e mortal angústia que lhe oprimia o coração desde que acreditara para sempre perdido o único ente que podia amar no mundo. Todavia esse afeto era sincero e puro, e sobre ele Regina construía as esperanças de um futuro mais feliz e tranquilo que fizesse esquecer as mágoas de seu tormentoso passado. Portanto, quando em um momento fatal viu despedaçadas pelo punhal do assassino essas tão caras e consoladoras esperanças, foi terrível o seu furor e desesperação. Na alma de Regina, misto incompreensível de substância angélica e