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Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/240

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de seu corpo, todos os impulsos de seu coração, e, com voz lúgubre, murmurar-lhe ao ouvido: “afronta e maldição eterna sobre ti, mulher perjura…!”, e ela apertava com mão convulsa o punhal que tinha sobre o seio, e repetia dentro da alma: “eu o jurei, e juro ainda…! Hei de vingar-te…!”.

Por outro lado, afagava-lhe os ouvidos a voz terna e comovida do amante que lhe dizia: “graças a ti, Regina, que me fazes hoje o mais feliz dos homens! Dize-me ainda uma vez que me amas; quero ouvir de tua boca adorada continuadamente essa doce palavra para convencer-me que não sou ludíbrio de um sonho. É tamanha a ventura que me enche o coração, que a custo posso nela acreditar”.

Regina sem responder-lhe apertava-lhe meigamente a mão aos seios ofegantes, e murmurava consigo: “Infeliz…! Morrerás, morreremos ambos…!”

De repente parou; aproximavam do rochedo sinistro, do altar de sangue. A donzela conservou-se muda e imóvel por alguns instantes como absorvida em profunda reflexão. O coração lhe fraqueava, e ela não ousava avançar nem mais um passo para o sítio fatal.

— Ricardo, meu amigo — disse bruscamente —, é preciso que te vás embora; amanhã voltarás.