Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/260

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O pavoroso estrugido das vagas, que abalroavam em derredor das penedias, e que pareciam abalar a ilhota em suas bases, roncava nos espaços como uma trovoada denunciando a violência e o horror da tempestade. Regina quase caiu desfalecida de pavor e desânimo. Com aquele tremendo temporal jamais o barco de seu amante poderia penetrar no recôncavo da ilha, e teria infalivelmente de quebrar-se de encontro às penedias, ou de perecer devorado pelos vagalhões.

Entretanto não a abandonavam a coragem, nem a esperança, e ia tentar esforços supremos para salvar o amante. Abeirando a praia, foi procurando a entrada do golfo, onde à meia altura da rocha, que servia de pilastra à porta colossal, formava-se uma espécie de frisa ou balcão bastantemente largo, e facilmente acessível pelo lado interior. Dali, dominando as ondas, podia-se contemplar o oceano ao largo por toda a extensão dos horizontes, mas nessa ocasião Regina só procurava descortinar o barco de seu amante no meio das vagas alterosas e revoltas. Em pouco o divisou a poucas amarras do rochedo em que se achava, debatendo-se horrivelmente com o pego furioso que o fazia saltar como uma pela em contínuos e violentos boléus. Ora sumia-se de todo por trás de um vagalhão, e parecia ter-se abismado para sempre nas entranhas do oceano, ora surdia de