Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/316

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já para roubarem o mel às abelhas do chão. Outros esgravatando as fendas dos rochedos andavam a cata de lagartos, cobras, sapos, lagartixas e outros répteis e insetos, que tudo lhes servia de alimento. Assim passavam as noites a caçar o alimento só para aquele dia, pois toda caça, que apanhavam quase sempre a escorchavam e devoravam no mesmo instante e no mesmo lugar a maneira dos lobos e panteras.

Durante esse tempo Gaspar em suas sortidas noturnas procurou portar-se por tal modo, que desvanecesse toda e qualquer desconfiança, que a índia pudesse nutrir ainda a seu respeito. Assim já ela ousava afastar-se a sós com ele para longe dos outros grupos, e deixava-se ir sem susto para aonde Gaspar a queria conduzir sem serem espionados por ninguém. Nessas ocasiões, se Gaspar o quisesse, poderia tê-la agarrado e sufocado com as mãos, e escapar para sempre à sua triste escravidão. Mas repugnava à sua consciência e doía ao seu coração nobre e generoso matar tão cruelmente aquela que, fosse porque fosse, tinha sido a salvaguarda de sua existência, e embora sem o querer e sem o saber, lhe proporcionava meios de escapar daquele horrível e abominável cativeiro. Demais a empresa não era isenta de perigo; um grito só, que ela soltasse, podia ser ouvido dos seus, e tudo estava perdido; mesmo