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Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/319

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Quem os visse ali, — aquele par solitário em meio daqueles risonhos e fecundos ermos, ela suavemente adormecida nos joelhos dele, ele embevecido no espetáculo da natureza, que em torno se lhe despertava entre esplêndidas galas e rumores harmoniosos, — quem os visse ali, julgaria ver aos fulgores da primeira aurora outro Adão e outra Eva no seio de um novo Paraíso.

Somente em dois pontos se acharia diferença; um é que a Eva do Gênesis não seria por certo tão alva como esta; outro é, que o novo Adão trazia sempre uns calções esfarrapados e os restos de uma capa.

Talvez se pense, que Gaspar poderia escapar deixando a índia adormecida, sem que lhe fosse mister esperar pelo alvorecer do dia. Engano; Gaspar era assaz precavido para compreender, que ela poderia acordar bem depressa, gritar pelos seus, e tudo estaria perdido para sempre. Não assim de dia, porque a luz do sol aqueles desgraçados nada enxergavam, e mal podiam dar um passo sem tropeçar e cair.

Quando o sol dardejou seus primeiros raios, Gaspar depositou cuidadosamente sobre a relva a cabeça da índia adormecida; contemplou pela primeira vez à luz do dia aquele corpo, que não era mal feito, porém de alvura tão excessiva, que fazia repugnância; os cabelos eram finos, corredios