Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/54

Wikisource, a biblioteca livre
Saltar para a navegação Saltar para a pesquisa

cerrado o lábio severo, o olhar fixo e cintilante parecia pitonisa inspirada a devassar com a mente os arcanos do porvir. Não poucas vezes também as pálpebras lhe descaíam lânguidas e melancólicas sobre a pupila desmaiada, e então era um anjo exilado chorando sobre a terra saudades do paraíso.

Os cabelos escuros eram bastos e macios como a seda, e ela os deixava debruçarem-se à vontade em redor dos alvos ombros em graciosas volutas, que se enleavam como arabescos de ébano em relevo sobre um vaso de alabastro. Quando se erguia em pé sobre a popa do lindo batel a balouçar-se sobre as vagas, ombros e braços nus, e a ligeira roupagem ondulando ao sopro das aragens, juraríeis ter visto Vênus surgindo das espumas do mar.

Mas era sobretudo nos olhos — nesses olhos verde-escuros de pupila negra —, que se concentrava como em um foco ardente todo o poder e magia da perigosa beldade. Se às vezes banhados em suaves eflúvios quebravam-se nos langores de vago devaneio, e astros de meiga luz faziam cismar de amor a quantos os viam, outras vezes revestindo-se de singular expressão de altivez e império despediam lampejos magnéticos capazes de subjugar e abater as mais orgulhosas frontes. Por isso ao lado do amor, que inspirava, incutia