também certo terror vago, certa repulsão inexplicável. A força atrativa, porém, prevalecia e os mancebos que uma vez a viam, fitavam nela os olhos deslumbrados e não os retiravam, senão quando se ausentava. Ficava-lhes, porém, aquela imagem sedutora para sempre gravada na alma em traços ardentes, como se fossem burilados com estilete de fogo.
— Foi um flagelo — diziam os antigos — essa moça, que aqui apareceu e criou-se entre nós. Foi um monstro, que o mar arrancou dos abismos do inferno e arrojou nestas praias. Foi como uma epidemia que lavrou nestas paragens e nos roubou nossos mais belos e bem dispostos rapazes. Não sei que grande falta cometemos para merecermos do céu tão duro castigo!
As mães, que tinham filhos adultos, diziam-lhes de contínuo:
— Foge, meu filho, foge dessa mulher maldita…! Foge da filha do mar. A pobre Felisbina não soube que víbora acolheu em sua casa e aqui deixou entre nós para desgraça nossa e de nossos filhos! Antes a tivesse levado consigo! Não creias que aquilo é criatura de Deus; não, meu filho, aquilo é filha do demônio com alguma bruxa do mar; não está vendo as proezas e artes diabólicas que faz…? Quem é que jamais pôs o pé na ilha maldita, naqueles penedos excomungados,