Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/56

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que lá não ficasse para sempre…? Entretanto ela vai e volta, quando lhe parece, e o certo é que essa ilha que de antes andava a boiar por toda a extensão dos mares, não se arreda mais de acolá, depois que essa víbora daninha aqui apareceu, e nem se arredará, enquanto ela aqui existir praticando malefícios; é o seu navio que ali está ancorado. Foge dele e dela, meu filho, como quem foge de Satanás. Ai de ti, se ela te põe os olhos malditos…!

Depois as velhas, para gravar bem fundo no espírito de seus filhos e netos o horror que queriam inspirar-lhes por essa mulher e esse lugar de maldição, começavam a contar-lhes histórias intermináveis da ilha nefanda, dos duendes, sereias e outros monstros e espíritos maléficos que nela habitavam desde tempos imemoriais. Não era, porém, de grande eficácia esse expediente; os temerosos contos não produziam senão passageira impressão no ânimo desses denodados e ardentes mancebos, criados no fragueiro ofício de pescadores em uma costa bravia, e avessados a todos os perigos e horrores do mar. Essa mesma proibição que lhes impunham era um estímulo demais para incitá-los a ver a fada incompreensível, cujas admiráveis prendas e maravilhosa beleza era assunto de inesgotável conversação em todos os serões. Ainda que tomados de certo