Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/71

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sempre fria e severa, mas sem enfado, nem desdém:

— Perde seu tempo, moço; eu não sei e nunca hei de saber o que é amor. Meu único amor ali está — e com gesto altivo apontava para o oceano —; sou filha do mar; não tenho outro pai, nem outra mãe, e nunca hei de ter outro amor. O mar ó livre; meu coração também é e há de ser sempre livre como ele.

Ditas essas palavras, esquivava-se ligeira como um silfo aéreo deixando o mísero amante com o coração despedaçado de angústias, o orgulho esmagado, mordendo as mãos e arrancando os cabelos em contorções de desespero.

— Não! — pensou ele por fim depois de reiteradas tentativas, em que baldou súplicas e lágrimas, juras e protestos. — Não, não há de ser com palavras, mas sim com ações que devo mostrar-lhe que este amor que me devora é imenso, como esse mar que ela adora tanto, ardente como esse sol que nos queima.

Uma tarde, como era seu costume, Regina fez resvalar sua esguia e ligeira piroga sobre as vagas douradas pelos fulgores do sol no ocaso e ganhou o largo. Sentada à popa, abriu a branca vela ao sopro do terral, que a impelia com rapidez através das campinas ligeiramente encrespadas do oceano.