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Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/80

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inflexível. Queria ir também quebrar o seu batel de encontro aos penedos malditos e sepultar-se para sempre nas mesmas águas, que serviam de túmulo à Regina. Mas a despeito de vento favorável, que lhe enfunava rijamente o pano, a despeito do infatigável vigor e celeridade com que manobrava o remo, depois de algum tempo de inútil porfia, percebeu que não tinha avançado nem uma braça. Parecia que ou o seu barco se conservava imóvel, ou que a ilha fugia constantemente diante dele. Entretanto, coisa estupenda! Não obstante o pavoroso estampido da ressaca abalroando nas penedias, cuidou ouvir ainda os ecos maviosos de uma voz de mulher repetindo o mote execrável da odiosa canção:

Mancebo, vai noutras partes
Teus amores suspirar.

Por fim, exausto de forças e quase desfalecido, Rodrigo, entregue ao mais profundo e sombrio desalento, deixou-se cair no fundo do barco, que deixou ir à mercê dos ventos e das ondas… Assim vogou por longo tempo aturdido e aniquilado pela fadiga e pelo embate de tão dolorosas e pungentes impressões, e só deu acordo de si quando a proa de seu batel esbarrou encalhada nos areais da costa. A maré, que enchia, e os