Roberto, porém, não partilhava a crença vulgar a respeito de Regina, nem acreditava em influências sobrenaturais de fadas, nem sereias. Tinha ele a fada do mar em conta de uma mulher ordinária. O que em seu entender dava extraordinário realce aos encantos de Regina era o fato de existir ela, mimosa, gentil e interessante criatura, no meio de toscas e desairosas pescadoras, grosseiramente trajadas e inteiramente destituídas de todo e qualquer atrativo. Todo esse prestígio, pois, que a fazia passar por uma criatura sobrenatural, em sua opinião, resultava somente da força do contraste.
Julgando-a por essa forma, e vendo os infortúnios e as catástrofes de que era causa, Roberto, sempre extremado em seus juízos, não podia deixar de considerá-la como um monstro de orgulho e perversidade, que folgava com as lágrimas e desgraças de seus adoradores. Doía-lhe no fundo da alma a sorte miseranda de tantos mancebos, que haviam tido o mais funesto fim por se terem rendido ao encanto dessa inflexível e fatal beleza. Por isso sem conhecê-la ainda concebera por ela o mais vivo despeito, e votava-lhe íntima e profunda aversão, como a uma serpente maldita.
Quando, porém, o irmão que tanto amava tornou-se a seu turno vítima da insensibilidade