Página:A illustre Casa de Ramires (1900).djvu/128

Wikisource, a biblioteca livre
120
A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

negros para as varandas de ferro do palacete. E pulou, com um murro no joelho, rugindo surdamente — «que biltre!» Ao apear no portão (um portão baixo, como esmagado pelo immenso escudo de armas dos Sás) tão suffocada indignação o impellia que não reparou nas effusões do porteiro, o velho Joaquim da Porta, e esqueceu dentro da caleche os presentes para Gracinha, a caixa com o guardasolinho e um cesto de flores da Torre coberto de papel de sêda. Depois em cima, na sala d’espera, onde José Barrôlo correra, ao sentir nas lages do Largo silencioso o estrepito do calhambeque, desabafou logo, arrebatadamente, atirando o guarda pó para uma cadeira de couro:

— Oh senhores! Que eu não possa vir á cidade sem encontrar de cara este animal do Cavalleiro! E sempre no Largo, defronte da casa! É sorte!... Esse bigodeira não achará outro logar para onde vá caracolar com a pileca?

José Barrôlo, um moço gordo, de cabello ruivo e crespo, com um buço claro n’uma face mais redonda e córada que uma bella maçã, accudiu, ingenuamente:

— Pileca?!... Oh, menino, tem agora um cavallo lindo! Um cavallo lindo, que comprou ao Marges!

— Pois bem! É um burro feio em cima d’um cavallo bonito. Que fiquem ambos na cavallariça. Ou que vão ambos pastar para as Devezas!