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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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O Barrôlo escancarou a bôca larga e fresca, de soberbos dentes, n’um lento pasmo. E de repente, com uma patada no soalho, vergado pela cinta, rompeu n’uma risada que o suffocava, lhe inchava as veias:

— Essa é d’arromba! Não, essa é para contar no Club... Um burro feio em cima d’um cavallo bonito! E ambos a pastarem!... Tu vens hoje rico, menino! Olha que essa! Ambos a pastarem, com os focinhos na herva, o Governador civil e o cavallo... É d’arromba!

Rebolava pela sala, com palmadas radiantes sobre a coxa obesa. E Gonçalo, adoçado por aquella ovação que celebrava a sua facecia:

— Bem. Dá cá esses ossos, ou antes esses untos. E como vae a familia? A Gracinha?... Oh! viva a linda flôr!

Era ella, com a sua ligeiresa airosa e menineira, os magnificos cabellos soltos sobre um penteador de rendas, correndo alvoroçada para o irmão, que a envolveu n’um abraço e em dous beijos sonoros. E immediatamente, recuando, a declarou mais bonita, mais gorda:

— Positivamente estás mais gorda, até mais alta... É sobrinho?... Não? nada, por ora?

Gracinha córou, com aquelle seu languido sorriso que mais lhe humedecia e lhe enternecia a doçura dos olhos esverdeados.