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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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ao meio pelo famoso tufo de cabello grisalho que lhe valera a alcunha de «Guedes Pôpa»:

— Por quem é, meu caro Guedes, ponha o chapeu! Como está? Sempre féro e moço. Ainda bem!... Fallou com o meu Padre Sueiro? O Pereira da Riosa, por fim, só vem á cidade na quarta feira...

Sim! Sim! O Snr. Padre Sueiro passára pelo cartorio, para avisar — e elle apresentava os parabens a S. Ex. apelo seu novo rendeiro...

— Homem muito competente, o Pereira! Já ha vinte annos que o conheço... E olhe V. Ex. aa propriedade do Conde de Monte-Agra! Ainda me lembro d’ella, um chavascal; hoje que primor! Só a vinha que elle tem plantado! Homem muito competente... E V. Ex. acom demora?

— Dois ou tres dias... Não se atura este calor de Oliveira. Hoje, felizmente, refrescou. E que ha de novo? Como vae a politica? O amigo Guedes sempre bom Regenerador, leal e ardente, hein?

Subitamente o Tabellião, com o seu embrulho de doces conchegado ao collete de seda preta, agitou o braço gordo e curto, n’uma indignação que lhe esbraseou de sangue o pescoço, as orelhas cabelludas, a face rapada, toda a testa até ás abas do chapeu branco orlado de fumo negro:

— E quem o não ha-de ser, Snr. Gonçalo Mendes Ramires? Quem o não ha-de ser?... Pois este ultimo escandalo!