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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

relusentes sobre as barbas brancas, as duras mãos descahidas como as de languida Dona — em quanto que nas lages, batendo a cauda, os seus dois lebreus o contemplam n’uma sympathia anciada e quasi humana. Mas, agora, este choroso desalento não lhe parecia coherente com a alma tão indomavelmente violenta do avô Tructezindo. O tio Duarte, da casa das Balsas, não era um Ramires, não sentia hereditariamente a fortaleza da raça: — e, romantico plangente de 1848, inundára logo de prantos romanticos a face ferrea de um lidador do seculo XII, d’um companheiro de Sancho I! Elle porém devia restabelecer os espiritos do Senhor de Santa Ireneia dentro da realidade epica. E, riscando logo esse descorado e falso começo de Capitulo, retomou o lance mais vigorosamente, enchendo todo o castello de Santa-Ireneia d’uma irada e rija alarma. Na sua lealdade sublime e simples Tructezindo não cuida do filho — adia a desforra do amargo ultraje. E o seu esforço todo se commette a apressar os aprestos da mesnada, para correr elle sobre Montemor, e levar ás Senhoras Infantas os soccorros de que as privára a embuscada de Canta-Pedra! Mas quando o impetuoso Rico-Homem com o Adail, na sala-d’armas, regia a ordem da arrancada — eis que os esculcas, abrigados do calor d’Agosto nos miradouros, enxergam ao longe, para além do arvoredo da Ribeira, coriscos d’armas, uma cavalgada