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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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Recolhendo do Tanque-Velho, do fundo da quinta, onde passára a calma, depois do almoço, na frescura do arvoredo, entre susurros de agoas correntes, a folhear um volume do Panorama — Gonçalo encontrou sobre a mesa da livraria, com o correio de Oliveira, uma carta que o surprehendeu, enorme, em papel almaço, fechada por uma obreia. E dentro a assignatura, desenhada a tinta azul, era um coração chammejante.

N’um relance devorou as linhas, pautadas a lapis, d’uma lettra gorda, arredondada com esmero: — «Caro e Ex. moSnr. Gonçalo Ramires. O galante Governador civil do Districto, o nosso atiradiço André Cavalleiro, passeiava agora coastantemente por deante dos Cunhaes, olhando com ternura para as janellas e para o honrado brazão dos Barrôlos. Como não era natural que andasse a estudar a architetura do Palacete (que nada tem de notavel), concluiu a gente seria que o digno Chefe do Districto esperava que V. Ex. aapparecesse a alguma das janellas do Largo, ou das que deitam para a rua das Tecedeiras, ou sobretudo no mirante do Jardim, para reatar com V. Ex. aa antiga e quebrada amizade. Por isso muito acertadamente procedeu V. Ex. aem correr pessoalmente ao Governo Civil, e propor a reconciliação, e abrir os braços generosos