— Ah! é vossê, Casco! Homem, não o conheci... E então?
Dobrou o jornal, tranquillisado — gozando mesmo a submissão d’aquelle valente que tanto o apavorára, erguido e negro como um pinheiro, na solidão do pinheiral. E o Casco, engasgado, repuchava, esticava o pescoço de dentro dos grossos collarinhos bordados — até que atirou toda a alma n’uma supplica soluçada, retendo as lagrimas que marejavam:
— Ai, meu Fidalgo, perdôe por quem é! Perdôe, que eu nem lhe sei pedir perdão!...
Gonçalo atalhou o homem, com generosidade e doçura. Elle bem o avisára! Nada se emenda, a gritar, com o pau alçado...
— E olhe, Casco! Quando vossê me sahiu ao pinhal eu levava um revólver na algibeira... Trago sempre um revólver. Desde que uma noite em Coimbra, no Choupal, dous bebados me assaltaram, ando sempre á cautella com o revólver... Pense você agora que desgraça se tiro o revólver, se desfecho!... Que desgraça, hein?... Felizmente, n’um relance, pensei que me perdia, que o matava, e fugi. Foi por isso que fugi, para não desfechar o revólver... Emfim tudo passou. E eu não sou homem de rancores, já esqueci. Comtanto que vossê, agora socegado e no seu juizo, esqueça tambem.
O Casco amassava as abas do chapeu, com a cabeça