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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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sem resistir, calcando decencia e luto, lhe offerecia a elle uma entrevista nas ruinas de Craquêde.

A mentira de resto, apesar de disparatada, aproveitára — porque, depois de subirem á saleta verde do Administrador, o espanto recomeçou. Videirinha esfregava as mãos, divertido:

— Oh snr. Dr., olhe que tinha graça!... Se a snr. aD. Anna, depois d’apanhar os duzentos contos do velhote, logo passadas semanas, zás, se engancha com um rapazote novo...

Não, não!... Gonçalo agora, reparando, tambem considerava despropositada a noticia do casamento, assim com o pobre Sanches ainda môrno...

— Naturalmente entre ella e esse D. João havia namorico, olhadella... Por isso imaginaram. Com effeito, alguem me contou, ha tempos, que o tal D. João se atirava valentemente, como cumpre a um D. João, e que ella...

— Mentira! atalhou o Administrador, debruçado sobre a chaminé do candieiro para accender o cigarro. Mentira! Sei perfeitamente, e por excellente canal... Em fim, sei por minha irmã! Nunca, em Lisboa, a D. Anna deu azo a que se rosnasse. Muito séria, muitissimo séria. Está claro, não faltou por lá maganão que lhe arrastasse a aza languida... Talvez esse D. João, ou outro amigo do marido, segundo a boa lei natural. Mas ella, nada! Nem ôlho de lado!