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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

rapado, com uns miudos olhos coruscantes — que merecêra a alcunha de Sabedorpela viveza e succulencia do seu dizer, as suas infinitas manhas de guerra, e a prenda de fallar latim mais doutamente que um Clerigo da Curia. Convocado por Tructezindo, como os outros parentes de solar, para engrossar a mesnada dos Ramires em serviço das infantas, corrêra logo a Santa Ireneia fielmente com o seu pequeno poder de dez lanças — começando por saquear no caminho a herdade de Palha-Cã, dos de Severosa, que andavam com pendão alto na Hoste Real contra as Donas opprimidas. Tão rijamente se apressára que, desde a madrugada, apenas comêra sobre a sella, em Palha-Cã, duas rodelas dos chouriços roubados. E com a sêde da afogueada correria, ainda na emoção de tão amarga nova, a derrota de Lourenço Ramires seu afilhado, novamente enchia d’agoa o pucaro de barro — quando pela porta da sala de armas, que tres cabeças de javali dominavam, rompeu o velho Ordonho esbaforido:

— Snr. Tructezindo! Snr. Tructezindo Ramires! o Bastardo de Bayão passou a Ribeira, vem sobre nós com grande troço de lanças!

O velho Rico-Homem saltou do poial. E arremessando a mão cabelluda, cerrada com sanha, como se já pela gorja empolgasse o Bastardo: