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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

bocolico sob os arvoredos da Torre — namorára. Quando considerou que uma mulher e filhos lhe atravancariam a vida ligeira — trahira. Logo que a antiga bem amada pertenceu a outro homem — recomeçára o cerco languido para colher, sem os encargos da paternidade, as emoções do sentimento. E apenas esse marido lhe entreabre a sua porta — não se demora, fende brutamente sobre a preza! Ah como o avô Tructesindo trataria villão de tal villania! Certamente o assava n’uma rugidora fogueira deante das barbacans — ou, nas masmoras da Alcaçova, lhe entupia as guellas falsas com bom chumbo derretido...

Pois elle, neto de Tructesindo, nem sequer podia, quando encontrasse o Cavalleiro nas ruas d’Oliveira, carregar o chapeu sobre a testa e passar! A menor diminuição n’essa intimidade tão desastradamente reatada — seria como a revelação da torpeza ainda abafada nas paredes do Mirante! Toda Oliveira cochicharia, riria. — «Olha o Fidalgo da Torre! Mette o Cavalleiro nos Cunhaes com a irmã, e logo, passadas semanas, rompe de novo com o Cavalleiro! Houve escandalo, e gordo!» — Que delicia para as Lousadas! Não, ao contrario! agora devia ostentar pelo Cavalleiro uma fraternidade tão larga e tão ruidosa — que, pela sua largueza e o seu ruido, inteiramente tapasse e abafasse o sujo enredo que por