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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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traz latejava. Fingimento torturante — e imposto pela honra do nome! O sujo enredo bem guardado entre os mais densos arvoredos do jardim, na mais cerrada penumbra do Mirante! — e por fóra, ao sol, nas praças d’Oliveira elle sempre com o braço carinhosamente enlaçado no braço do Cavalleiro!

Os dias rolavam — e no espirito de Gonçalo não se estabelecia serenidade. E sobretudo o amargurava sentir que era forçado a essa intimidade vistosa com o Cavalleiro — tanto pelo cuidado do seu nome, como pela conveniencia da sua Eleição. Toda a sua altivez por vezes se revoltava: — «Que me importa a Eleição! Que valor tem uma encardida cadeira em S. Bento?...» Mas logo a secca Realidade o emmudecia. A Eleição era a unica fenda por onde elle lograria escapar do seu buraco rural; e, se rompesse com o Cavalleiro, esse villão, vezeiro a villanias, immediatamente, com o appoio da horda intrigante de Lisboa, improvisaria outro Candidato por Villa-Clara... Desgraçadamente elle era um d’esses seres vergados que dependem. E a triste dependencia d’onde provinha? Da pobreza — d’essa escassa renda de duas quintas, abastança para um simples, mas pobreza para elle, com a sua educação, os seus gostos, os seus deveres de fidalguia, o seu espirito de sociabilidade.

E estes pensamentos lenta e capciosamente o